quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Boiando

Inspirado nas divagações do Nando Reis, escrevi esses versos...

Sensacional essa sensação de vazio

De quem boia no infinito,

Sentado precariamente numa bola de terra

Que bóia na água de uma Terra

Que bóia num universo

Que talvez bóie, ou talvez afunde,

Ou talvez nade, ou talvez nada.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

CERTEZA SOLITÁRIA

CERTEZA SOLITÁRIA

Talvez fosse a hora

Talvez o talvez vá embora

Talvez dando lugar

Para uma certeza sem par

Que se sente solitária

Que se sente mercenária

Pois se vende ao melhor ofertante

Ao que no bolso te objetos titilantes

Que brilham na luz clara

Refletem sombras escuras.

E nas sobras do mundo apodrecido

Estava o que achávamos desaparecido

Aquele que certezas tem não

Por ser sábio, por nunca fechar a mão

Àqueles que hoje precisam

Por saber que amanhã

Ele mesmo poderá precisar.

domingo, 31 de outubro de 2010

A cara dos nossos tempos

È que me parece estranho

Estar o dia todo no banho

Sair somente para reclamar

Não ter vontade nem de pensar.

Talvez porque eu tenha essa vontade

De subir no morro quando escurece

Com trovejadas e relâmpagos

Segurando um bastão de aço

E receber a fúria da natureza

Em meu corpo fraco, frágil, mas sem tristezas

Esperando que o raio tire de mim

Aquela fraqueza, o “não to afim”.

O não to afim de fazer...

O não to afim de viver...

O não to afim que é sim

A cara desses nossos tempos...

É que simplesmente não entendo

Os jovens saudáveis desse mundo

Que se jogam fora como latas velhas

Amassadas, já aberta mas ainda cheias.

Talvez porque eu tenha essa vontade

De me jogar no mar de alta altitude

Só para sentir o frio do vento

Enquanto vejo a água vir ao meu encontro

Mergulhar sem dó no azul infinito

E nadar a esmo sem querer abrigo

De mãos dadas com peixes até Betim

Diluindo na água o meu “não to afim”.

O não to afim de fazer...

O não to afim de viver...

O não to afim que é sim

A cara desses nossos tempos...

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

WOW! Nem eu sei onde estive esse tempo todo... Perdido por aí... Volto depois de tanto tempo com um conto... Vamos ver se vocês vão gostar:

UMA NOITE QUALQUER

Um conto de vidas e morte.

Autoria de Stefano Pelletti

Mais uma noite sombria na cidade. Os prédios cinzentos se levantavam lado a lado, solitários mesmo estando empilhados nos quarteirões degradados, mais parecendo caixas podres esquecidas em algum galpão sujo e infestado de ratos. O frio era poderoso, entrando por debaixo do sobretudo do colossal andarilho em sopros violentos, usando o vento como arma, impiedoso e cego. Os passos eram pesados, arrastados, o clássico andar do desesperado e do bêbado; Jab McKinley era ambos, cada vez mais enterrado nas lembranças inexistentes do que poderia ter sido sua vida: os flashes dos fotógrafos ávidos para conseguir o melhor ângulo, as boas mulheres, a grana, a fama, as lutas, os segundos em pé no ringue que precediam cada uma delas, segundos nos quais era possível traçar uma estratégia detalhada e que, por isso, mais se pareciam com horas.

Nada daquilo mais pertencia ao velho Jab, se esgueirando para o terceiro bar da noite, o enésimo da incontável série de botecos e buracos que tinha conhecido nos últimos cinco anos. No começo da espiral descendente em que tinha se metido ele tinha dois amigos: Phillip Morris e Johnny Walker. Nos últimos tempos, após a penhora da casa e dos últimos centavos que possuía, nem eles eram mais seus amigos. Agora tinha que confiar a empreitada de entorpecer seu corpo até desmaiar a whiskeys e cigarros de segunda, comprados em balcões de bares lúridos, servidos por garçonetes-prostitutas com seios caídos e olhar triste.

A porta do Hardcore Eye estava entreaberta, posição convidativa que contrariava com a aparência geral do lugar, mais uma pústula purulenta no coração de uma cidade infectada e moribunda. Se acima da porta houvesse a escrita “deixeis as esperanças vós que entrais”, aquela poderia ser facilmente confundida com a entrada do inferno, mas ninguém lá dentro tinha a menor idéia de quem tivesse sido Dante Alighieri ou da importância cultural de sua obra-prima, a Divina Commedia. Pelo contrário, da abertura fina saia o ar quente que se condensava ao contato com o frio da noite, ampliando a sensação de lugar enfumaçado e claustrofóbico que daria numa época mais quente. O som era o clássico BUM BUM BUM de alguma banda de New Metal degenerada, com seus integrantes devassos e drogados, não muito diferentes do que os restantes vinte milhões de habitantes daquela cidade.

Nada daquilo interessava aos olhos de Jab, entorpecido pelos drinques tomados no último bar em que esteve. Simplesmente entrou no local com o mesmo passo que mantinha andando nas ruas da cidade, sem acelerar ou diminuir, sem ao menos olhar em volta. Andou direto ao bar e encomendou mais um drinque, talvez o vigésimo daquela noite, não que estivesse contando; mesmo que o fizesse, não conseguiria manter a conta.

O quarto daquele motel barato era nojento. Deitada sobre as costas, com aquele homem frio em cima dela, Marylin via as baratas andando no teto manchado de bolores pretos e verdes. De repente, sentiu um pontada dolorosa de saudade da casa que há muito havia deixado para trás, trocando uma mansa vida por um cara cabeludo, uma motocicleta e muito orgulho de adolescente. Agora o cara cabeludo havia sido trocado por um cafetão violento, a motocicleta por uma cama suja e o orgulho juvenil pela vergonha de ter se tornado uma prostituta. Ótimas escolhas de vida.

Uma vez terminado o serviço, Marylin desceu as escadas, onde deu o sinal ao leão-de-chácara de que tudo estava bem, de que o cliente havia pago o serviço e que podia ir sem problemas. Quando entrou no salão do bar foi diretamente para o balcão e pediu uma vodka com gelo.

«De uma moça linda como você esperava algo com mais estilo, como um Gin Tonic, ou um Bloody Mary, não uma Vodka nas Pedras. Talvez até um Manhattan».

A voz do estranho fez com que ela pulasse na cadeira e se virasse, dando de cara com um homem grande e musculoso, envolto num sobretudo preto não mais tão novo. As olheiras profundas e escuras e os ombros meio caídos fizeram Marylin notar que aquele deveria ter sido um homem muito maior em seus dias de glória. Mesmo abatido e claramente embriagado, o homem não era de todo feio; tinha um brilho no olhar que arrepiava a garota, algo que não se via nos olhos dos bêbados comuns que rondavam as noites daquele fim de mundo.

«Não sabia que existisse um drinque com estilo. Afinal, todos os drinques possuem a mesma finalidade: aumentar o teor alcoólico em nosso sangue, com a intenção de nos entorpecer para podermos fugir das merdas que nossas vidas se tornaram».

«Belo discurso. Concordo plenamente. Prazer, sou Jacob McKinley. Pode me chamar de Jab».

«Jab? Belo apelido. Eu sou Marylin. Pode me chamar de Mary».

A aparência acabada do homem na frente dela não condizia com sua personalidade. Após uma hora de conversa, ela pôde sentir naquele homem uma força e uma vontade de viver que superou as suas expectativas. Estava ficando emocional, precisava de uma picada. E logo.

«Jab, foi legal te conhecer, mas tenho que ir. Tenho que trabalhar. Até logo».

«Trabalhar? Quanto você custa?»,

«Interessou, foi? Com você eu faço de graça, vem comigo».

Sua última matéria tinha sido um fracasso, como a anterior. Já fazia dois anos que não conseguia publicar algo decente, algo que valesse a pena ler. Não que faltassem notícias, pelo contrário: a cidade era tal reduto de marginais, mafiosos, drogados, salafrários e corruptos que qualquer um com um mínimo de espírito investigativo conseguiria uma “batata quente” para jogar, pelo menos, na terceira página do jornal. Mas o Frank não conseguia mais. “O Frank perdeu o toque”, diziam, “Não conseguiria reconhecer uma boa notícia nem se ela se estatelasse ao chão debaixo de seu nariz”, e isso o irritava. Nada melhor do que a crua verdade para irritar alguém que não quer ouvi-la. Frank LaBua não queria, não queria mesmo. Vencedor do prêmio Pulitzer dez anos antes por uma reportagem sobre células dormentes da Al-Quaeda, agora não conseguia tirar a névoa espessa e insistente que o álcool trazia ao seu cérebro. Ele, que já fora convidado para fazer reportagens de todo tipo e podia se recusar sem pensar em mais nada, agora não conseguia descolar dez linhas mais ou menos para o caderno de política daquele jornalzinho de meia tigela no qual trabalhava.

E, além de tudo isso, tinha outro problema. Além de ter sido largado pela esposa, rejeitado pelo filho, ter perdido o “dom” e ter se entregado ao álcool, descobriu ser gay. Nada demais, não é? Mas para Frank isso foi a gota que derramou o vaso. Sentir atração por um homem era algo que lhe causava uma repulsa tão grande que às vezes chegava a se esbofetar, achando ser tudo causa da depressão em que entrou após ter sido largado por Susan. Outras vezes se olhava no espelho com sua .38 na mão carregada, pronto para fechar as cortinas sobre o show de merda que era sua vida, achando que o casamento não tinha dado certo exatamente pelo fato de ter sido gay desde o princípio; mas, nos finalmentes, era tão enojantemente covarde que não conseguia nem por fim à sua miserável existência. Por isso, bebia mais, guardava sua arma e saia na noite, à procura de um companheiro para não passar a noite sozinho. Com a mente entorpecida pelo álcool, não lhe sobrava mais força de vontade para lutar contra sua verdadeira natureza. Foi numa noite dessas que conheceu Jake.

Jake Morelli era o tipo de cara que te encanta com um olhar. Paletós finos, perfumes caros, bons restaurantes, sotaque italiano e o estranho jeito do homem que não está acostumado a ouvir “não”. Qualquer mulher cairia apaixonada aos seus pés após somente uma noite juntos em algum restaurante, se ele gostasse de mulheres. Morelli, chefe do maior cartel de drogas da cidade, era também abertamente homossexual. Apesar de gostar de parceiros eventuais, de tanto em tanto encontrava alguém que o agradasse o suficiente para que passasse mais do que algumas horas junto, talvez até dias, como estava acontecendo com o Frank.

Jake tinha conhecido Frank dez dias antes em um de seus bares, mais precisamente no Hardcore Eye, e logo tinha gostado de conversar com aquele homem inteligente, abalado e confuso. Sentiu a necessidade de dar àquele cara a tranqüilidade de que precisava, pelo menos até quando não tivesse cansado dele. A rejeição de Frank pela própria homossexualidade tornava a coisa ainda mais excitante, assim como sua desinibição após algumas doses de whiskey. Assim, decidiram se ver algumas vezes mais, e já fazia dez dias que se viam todas as noites. Naquela noite Morelli decidiu dispensar Frank, que já se tornara mais um peso que uma companhia, com aquela sua mania de ficar reclamando da vida. Marcou com ele na porta do Hardcore Eye, para onde foi cedo, ver como iam os negócios com as putas e a droga.

Jab se sentia um homem novo deitado na cama enquanto Mary se vestia. Desde a época dos ringues ele não se sentia tão vivo.

«O que aconteceu, garotão, que te afastou dos ringues?»

“Muitos socos na cara”, pensou ele com tristeza, “muitas pancadas na cabeça que geraram sérias conseqüências na comunicação elétrica do meu cérebro”.

«Na verdade, levei tanta porrada que meu cérebro não agüentou, querida. Meu coach sempre disse que batia muito bem, mas defendia muito mal. No dia em que tive que largar tudo, não aconteceu nada demais. Nenhum golpe fantástico do meu adversário ou manha suja que me derrubasse de vez. No começo do terceiro round de uma luta fácil contra um menino do sul, eu simplesmente caí no chão e comecei a sentir a dor de mil câimbras e apaguei. Nenhuma poesia. A vida é assim. Me diagnosticaram uma epilepsia devida a subseqüentes traumas cranianos».

Ela não disse mais nada. Não havia nada a dizer. Aquele momento havia acabado e agora a vida continuava: ele voltaria a ser um bêbado acabado e solitário, enquanto ela ia se arrumar para o próximo cliente da noite. Simples assim. Mary saiu do quarto rapidamente, após ter dado um último beijo no rosto duro, mas bonito, do ex-lutador. Jab demorou mais um pouco, repensando no que havia acontecido, mas inexoravelmente se encaminhou para o bar, onde terminaria de se embriagar, para depois andar nas ruas até encontrar um lugar aquecido o suficiente para poder passar a noite.

Marylin percebeu que o leão-de-chácara foi falar ao Morelli que ela não tinha lhe repassado o dinheiro do último cliente. Morelli era um filho da puta asqueroso que só se importava com dinheiro e ela sabia que pagaria caro a exceção à regra de que “todos pagam” que tinha feito para o boxeador. Talvez pagaria caro demais.

Pegou sua bolsa que havia largado atrás do balcão e andou rapidamente em direção da porta principal, tentando passar despercebida, tentando, mais que tudo, não levar uma surra do segurança e daquela bicha do Morelli.

«Se aquela vaca acha que pode me roubar, está muito enganada! Cadê ela? Quero ela agora!».

«Sr. Morelli, ela acabou de sair do bar».

«O que tá esperando, porra! Atrás daquela vagabunda!».

Frank naquela noite se olhou no espelho com sua .38 na mão, ainda covarde demais para dar um fim naquilo tudo, e teve novamente profundo nojo de si mesmo, do veadinho que tinha se tornado, e decidiu realmente dar um fim naquilo tudo, ou, pelo menos, em parte daquilo. Enfiou a arma na parte de trás de sua calça jeans e saiu para se encontrar com o Jake na porta do Hardcore Eye, como tinham combinado.

Jab percebeu que algo não estava certo. Viu a Mary sair de fininho do local, ouviu um cara de terno gritar alto algo sobre alguma vagabunda, viu esse mesmo cara sair pela mesma porta pela qual tinha saído Mary e viu o segurança do bar se apostar ao lado da porta, que agora estava novamente entreaberta, como quando ele tinha chegado naquele fim de mundo. Tinha certeza de que algo muito errado estava para acontecer.

Levantou da cadeira e andou em direção da porta. Passou pelo brutamonte, tão grande quanto ele, e se perguntou se aquele cara pudesse estar armado ou não. Passou andando discretamente do lado de Mary e o cara-de-terno, ouvindo a briga, uma discussão sobre algum dinheiro que não tinha sido repassado, ou algo do gênero. Estava decidido a passar direto, afinal, não era da conta dele, quando o filha-da-puta de terno deu um soco no nariz da Mary, que projetou sua cabeça para trás e a jogou no chão. Viu seu nariz sangrando e seu próprio sangue ferveu.

De impulso partiu para cima do cara-de-terno, soltando-lhe um soco na nuca que o fez cair de joelho. A raiva tinha tomado conta de cada molécula de seus músculos e estava decidido a bater naquele desgraçado até arrancar-lhe a alma a socos. Quando começou a levantar o braço para dar início à letal seqüência de pancadas, sentiu uma dor profunda se irradiando de algum lugar das costas para o peito, a barriga, o pescoço, amolecendo pernas e braços, fazendo-o cair sentado. Pensou logo que fosse um ataque epilético causado pelas fortes emoções daquela noite, mas logo que sua mão percorreu o lugar de onde tinha partido a dor, entendeu que não era isso.

A garota já estava fora do bar quando Morelli a alcançou.

«Sua puta barata, agora é assim? Minhas garotas agora podem foder quem quiserem e levarem o dinheiro? Esqueceu de nosso trato? Da droga que você torra todo dia? Acha que é barato te manter, sua viciadinha de merda?».

«Jake, aquele cara não me pagou... Eu... Eu... Fiz de graça com ele... Eu conheci ele no bar e achei ele gente boa...».

«Ah, agora é assim, sua vagabunda? Transa com quem quer, de graça, sem lembrar do Jake aqui! Esqueceu que você é MINHA PROPRIEDADE? Todo o dinheiro que faz tem que passar por mim e se você acha que tem que transar com alguém de graça porque achou ele fofinho, FODA-SE! Vai me pagar aquela foda!».

A putinha estava com medo, ele podia sentir isso. Ele até que sentia um pouco de pena por aquela alma penada, mas se não desse o exemplo, ele teria que enfrentar um motim das prostitutas de seus bares. Não, tinha que deixar bem claro quem mandava e faria isso escrevendo-o no rosto daquela vagabunda. Enquanto ela ainda tentava formular alguma desculpa, explicação ou talvez resposta, ele deu um soco no seu nariz, sentindo seus ossos quebrando debaixo de sua mão, vendo o sangue jorrar do corte que se abriu quase que instantaneamente no rosto da garota.

Ia partir com um segundo soco na cara dela, quando ouviu um forte som metálico, uma dor na base da nuca e perdeu os sentidos.

Quando Frank chegou na esquina do beco que levava ao Hardcore Eye ouviu um estampido alto, como um tiro, e se apressou para ver o que estava acontecendo. Entrando no beco viu Jake no chão, sem sentidos, debruçado em cima de uma garota com o rosto destruído que estava tentando tirar ele de cima. Do lado dele tinha o corpo de um gigante em uma poça de sangue e logo mais à direita um cara com uma arma ainda fumegante na mão. Quase sem pensar, se jogou em cima de Jake, tirando-o da garota, que ficou no canto chorando baixo.

Quando o virou, Jake começou a voltar a si, e Frank ficou alisando seu cabelo devagar. Enquanto isso, o segurança se aproximou do corpo do gigante começou a dar-lhe uns pontapés para averiguar que, pelo menos, tinha perdido a consciência. Enquanto Jake recobrava os sentidos, Frank lembrou do que tinha prometido a si mesmo: largou Jake no chão, se afastou um pouco e, aproveitando que o segurança tinha voltado para dentro do bar, provavelmente para chamar alguém para limpar aquela bagunça, puxou sua .38 e a apontou para um Jake confuso e aturdido.

«Você, sua bicha escrota, me fez fazer coisas das quais me envergonho cada segundo que passo sóbrio!».

«Então tome logo uns drinques». Essa foi a última resposta espertinha que Jake Morelli deu para alguém. Na verdade, a última palavra que ele proferiu.

Tomado pela raiva, Frank puxou o gatilho três vezes, fazendo sobressaltar a garota que ainda estava no canto chorando e espalhando o cérebro de seu ex-amante pelo asfalto escuro e gelado do beco. Logo depois virou o longo cano da arma para a própria têmpora e apertou o gatilho uma última vez, caindo ao solo sem vida.

Marylin, após o soco de Morelli, tinha entrado em uma espécie de estado de choque, tendo somente vagamente percebido o Jab batendo do mafioso e o estampido do tiro do segurança que acertou o boxeador nas costas. Somente voltou a si quando o namorado do Morelli tinha atirado três vezes em sua cabeça e, logo em seguida, se suicidado.

Com o rosto cheio de sangue ela pegou a carteira de Morelli e do namorado, verificou se tinha dinheiro dentro, se levantou e saiu correndo na noite da cidade, sem sequer olhar para os corpos no beco, deixando para trás, por alguns metros, pegadas vermelhas, coloridas com o sangue do homem a quem, numa noite, tinha restituído e tirado novamente a vida.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

LATA DE TINTA

Após 70 dias de ausência, altamente justificável, por sinal, voltei!

Proponho uma poesia que veio assim, de repente, chamada LATA DE TINTA


LATA DE TINTA

Hoje me jogo numa lata de tinta

Vermelho sangue ou azul marinho

Enquanto meu tempo pinta e repinta

E substitui, com sorriso mesquinho,

Os nomes debaixo das pinturas “futuro”

Em melancólico “passado” enquanto as vivo,

Me apagando docemente em carinho,

Me afogando em afagos por ser vivo,

Enquanto vejo perdido no vidro

Um eu desenhado distraído

No branco puro da parede

Pulando de cabeça numa lata de tinta

Amarelo canário ou talvez verde.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Extinto direito de dizer

Num momento de desabafo saiu esta poesia... Não é endereçada pessoalmente a ninguém, mas tem hora que assim me sinto na casa da sabedoria... Quem tem ouvidos para entender, entenda...

Levanto a mão,
pronto e preparado,
as palavras, minhas armas,
carregadas e polidas.
Dá o start o mongol-mor
que com sua suave ignorância
fala e desfala
não reconhecendo meu sagrado direito
de livre expressão.
O braço continua alto,
última bandeira do livre pensar,
derradeiro herói dos opinionistas,
monumento destoante no mar da indiferença.
Mas o capitão do vácuo o ignora
como se ignora o pobre louco,
como ignorei o cão faminto de manhã
(não mais passará fome, meu amigo).
Minutos passam,
somando longa espera,
subtraindo-se à minha paciência,
o braço lá continua,
antes rosado e vivo,
agora pálido e morente,
baluarte esperançoso
do extinto direito de dizer.
Quando se esvai a paciência
as pernas se flexionam
e o corpo se levanta,
deixando no falastrão e espectadores
sua característica expressão
de estupidez.
A palavra sai com desdém
de minha garganta que queima
- Professor
Título indvido, porém obrigatório.
Com a força consegui meu espaço.
As idéias ordenadas
saem como balas de minha boca.
Poucos sobreviverão.
A luta continuará
para que a ignorância
nunca reine em paz!

terça-feira, 6 de abril de 2010

A PROVA CONCRETA DA EXISTÊNCIA DO AMOR

Sou grão de poeira

Que vai com o vento leviano

Para novos horizontes

Para velhos ambientes

Tocados por luzes reluzentes

Que ressaltam a fraqueza de seu ser.

Sou pedra dura de arenite

Que só o rio que transborda

Transporta para praias de longos litorais

Ou fundos d’água

Ou vales verdes.

Sou leve pássaro selvagem

Ave livre e solta às correntezas

Que se preocupa em deixar o ninho

Logo após crescerem as penas.

Sou o que deveria ser

Sempre querendo ser eu mesmo

Na indecisão de ser quem quero

Ou quem para vós deveria ser.

E você...

Você é orvalho luminoso na manhã

Quando o sol oblíquo te toca

E seu reflexo sorrateiro me alcança

Entre frestas de madeira recortada.

É cheiro doce de flores novas,

Dado por pétalas coloridas

Corolários da verdadeira natureza

Da essência da vida de uma raça inteira.

É o que quero ver ao acordar

Nas quentes ou frias manhãs

Que com suas manhas naturais

Me faz sentir seu,

Pois desse mundo sou,

E esse mundo é você.

É eterno descanso de minha inquieta alma

Primitivo impulso de minha benevolência

Vontade de minhas mãos que suaves te tocam

Quando me deixa tocar sua essência.

É o contínuo moto de mim mesmo

A tortura do querer te querer

Da junção de nós, almas,

Impossível nesse mundo de matéria.

E nós...

Nós somos somente o todo,

A completude alcançada,

O fim da eterna busca pelo outro,

O fim da eterna busca por mim mesmo,

O sentido da vida e da verdade,

A prova concreta da existência do amor.